The Project Gutenberg EBook of Alexandre Herculano, by Manuel Caldas Cordeiro This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org Title: Alexandre Herculano Author: Manuel Caldas Cordeiro Release Date: November 22, 2007 [EBook #23590] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK ALEXANDRE HERCULANO *** Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search)
CALDAS CORDEIRO
Alexandre
Herculano
MONTEIRO & C.ª--editores
Agencia Universal de Publicações
Rua dos Retrozeiros, 75
LISBOA
MDCCCXCIV
CALDAS CORDEIRO
Alexandre
Herculano
MONTEIRO & C.ª--editores
Agencia Universal de Publicações
Rua dos Retrozeiros, 75
LISBOA
MDCCCXCIV
[4]Typ. da Companhia Nacional Editora
Alexandre Herculano nasceu no Pateo do Gil, na rua de S. Bento, em 28 de março de 1810. Estudou com os padres de S. Filippe Nery, nas Necessidades; mas em 1831 envolveu-se na revolta do 4 d'infanteria contra o governo de D. Miguel e teve de fugir de Lisboa a bordo da fragata franceza «Melpomène.» D'aqui embarcou num navio inglez e visitou Plymouth, Folmouth, Jersey, S. Malô, Rennes, Granville. Tomou parte na expedição do Mindello. Em 1833 [6] foi nomeado bibliothecario da bibliotheca do Porto, logar que conservou até 1836, data em que, espicaçado já pela mania burgueza do «descargo da consciencia e dos deveres cumpridos», se demittiu para não prestar juramento ao governo da contra-revolução. Em 1837 publica a «Voz do Propheta» e dois annos depois é nomeado pelo rei Fernando seu bibliothecario. É nesta epoca que dirige e escreve no «Panorama», onde publicou numerosos artigos, incluindo os romances: «O Monge de Cistér», «o Eurico», «O [7] Bobo», «A Dama do pé-de-cabra», «O Parocho d'Aldea», etc, etc. Este periodo vae até 1846, em que sae o 1.º tomo da «Historia de Portugal», contendo as origens historicas de Portugal até ao reinado do 1.º rei; em 1847 apparece o 2.º que alcança até ao reinado de Sancho II; em 1849 o 3.º, que vae até D. Diniz; em 1853 o 4.º, que trata da descentralisação municipal. Depois publica a «Historia da Origem e Estabelecimento da Inquisição». Em 1853 é encarregado de dirigir a publicação dos «Monumentos [8] Historicos de Portugal» com a dotação annual de 1.000$000 de réis. Como porém em 1856 fosse nomeado guarda-mór da Torre do Tombo um tal Joaquim José da Costa Macedo, Alexandre Herculano, que o odiava e estava muito atacado da monomania da perseguição, demitte-se de socio e secretario perpetuo da Academia, affirmando que «não podendo entrar no archivo da Torre do Tombo deixava por isso de trabalhar nos «Monumentos!» A Academia em outubro do mesmo anno reelege-o, e em dezembro [9] nomea-o vice-presidente, mas Herculano escreve nova epistola persistindo no seu proposito, Na questão «Eu e o clero» leva ao apogeu essa monomania da perseguição, que toda a vida o dominou. Em 1861 regeita a nomeação de par do reino; em 1862 a de grã-cruz de S. Thiago, ordem que ultimamente se tem pendurado ao peito d'alguns actores. Ao regeitar esta ultima mercê, escreve com pacata ironia:
«No immenso consumo que se está fazendo, que se tem feito ha 30 [10] annos, de distincções, de fitas, d'insignias, de fardas bordadas, de titulos, de graduações, de tratamentos, de rotolos nobiliarios, o homem do povo que queira e possa morrer com esta qualificação deve adquirir em menos de meio seculo extrema celebridade».
Em 1867, enojado do viver, recolhe-se a Val-de-Lobos, a celebre quinta perto de Santarem em que se dedicou á cultura do azeite. Vinha a miudo a Lisboa e os seus logares predilectos eram a livraria Bertrand e a casa do duque de Palmella. [11] De vez em quando quebrava o silencio a que se obrigou, publicando um ou outro opusculo sobre as questões d'occasião.
A 13 de setembro de 1877 morre em Val-de-Lobos, victima d'uma pneumonia. E doze annos depois é transferido da egreja d'Azoia, com official solemnidade, para os Jeronymos, onde hoje repousa num sumptuoso mausoléu, quasi visinho do tumulo mais modesto que Portugal reservou aos suppostos ossos de Camões.
É costume dizer-se com algum [12] abuso da metaphora, que ha mortos que se resuscitassem, vendo os escandalos contemporaneos, tornariam a morrer de vergonha. Qualquer critico carrancudo podia, seguindo esta tradicção, affirmar com algum bom senso que, se Herculano resuscitasse quando o trasladaram de Azoia para Belem, correria o discursador e os assistentes a cacete.
Pontifice das lettras, Alexandre Herculano não teve, como muitos, a benevolencia, a fraqueza, uma cynica bondade de confundir os mediocres e os de talento; e perseguiu com o seu rancor todos os que a inutilidade levantara, elevados pela politica, pela camaradice, pela intriga. Foi um amarguroso e um triste. Por despeito? por tedio da sua epoca? por cançaço do seu espirito! Interrogações irrespondiveis, antes [14] de se analysarem as causas que levantaram este homem á imminencia, d'onde nunca cahiu, e d'onde tanta vez lançou sobre o seu tempo os threnos e as maldições d'um propheta que não pede perdão para a miseria humana, antes invoca a colera de Deus sobre as velhas cidades corrompidas. Ezequiel d'uma epoca indigna de historia, só começou a rugir, não por mando de Jehovah, mas depois de conhecer os homens e de se ter entediado d'elles. O seu temperamento soturno, a sua mente convulsiva, o seu caracter d'uma rectidão, tão inabalavel, tão egoista--que hoje nos chega a parecer estudada--eram o producto d'uma hereditariedade que nunca se desmentiu e lhe deu esse bello cunho [15] de portuguez, inquebrantavel e forte.
Aos vinte annos, viu-se obrigado, por uma revolta militar do corpo a que pertencia, a refugiar-se no estrangeiro, por onde pairou algum tempo, visitando a Inglaterra e a França. Não sei se foi decisiva para a sua vocação essa viagem; o estado em que então se encontrava a Europa pode fazel-o crer. Uma outra era abria-se aos espiritos inquietos e convulsionarios. As nações, que durante quarenta annos se tinham agitado em guerras terriveis, nas epicas campanhas de Bonaparte, nas guerrilhas da Italia, na politica da Austria, sentiam a necessidade de pacificar-se. Começou pois a revolução na arte.
[16]O inquieto Chateaubriand e o desesperante Byron tinham feito as suas obras no meio das agitações d'essa Europa, de que elles invocaram o passado, poetisando-o com as saudosas melancolias que desperta em todas as mentes doloridas. Na Allemanha Goethe e os irmãos Schlegels, Leopardi na Italia, cunhavam os seus escriptos com esse desespero de descontentes, de sempre tristes. O sol das batalhas apagara-se em Santa Helena ao mesmo tempo que o sol da poesia expirava ao avistar a Grecia, que ia libertar. Bonaparte e Byron foram os deuses d'essa geração; e, para completar a trindade, poder-se-hia juntar-lhe Leopardi. Mas o poeta do Amor e da Morte, o atheu sem esperança, o heroico [17] resignado, não teve a influencia dos dois primeiros, nem a quiz. O vencedor de Marengo e o poeta de Manfredo, convulsivos e desesperados, tiveram o enthusiasmo e a acção; o triste que escreveu essa admiravel elegia ao Passaro Solitario, em nada acreditava, senão na inutilidade da vida e no repouso da morte. Não era portanto um guia que escolhessem os que viam a existencia mais complicadamente.
Byron, Vigny, Goethe, Musset, Shelley, Moore, Hugo, punham no que escreviam a nostalgia d'epocas remotas da historia, que elles lembravam com saudade. Outras indoles, partilhando o mesmo enthusiasmo, tentaram estudar esses seculos para reconstituil-os com os documentos [18] e as memorias. D'aqui a historia e o romance historico.
O seculo XVIII foi para Portugal e para França o seculo da decadencia da arte.
Entre nós, á poesia das escolas chamadas italiana e hespanhola succedeu a Arcadia, agrupamento onde alguns vates semsaborões e massadores inventavam os meios de torcer a lingua em versos duros e corneos. A Francisco Rodrigues Lobo, a Sá de Menezes, a Santa Ritta Durão succederam Antonio Diniz, o engraçado do Hyssope, que hoje ninguem lê sem bocejar, o barbeiro Quita, Garção, Francisco Dias Gomes, e o nunca esquecido Filinto Elysio, o mais monstruoso escangalhador da simples e bella lingua portugueza, o mais inevitavel [19] hymnifero de pindaricas, de epithalamios, de dithyrambos. Na prosa o abysmo era tão profundo: depois de Francisco Manoel de Mello, de fr. Luiz de Souza, de Manoel Bernardes, o padre Theodoro d'Almeida e o Candido Lusitano!
O seculo XIX iniciou-se sem presagios de mudança. O velho Lafões na Academia chamada das sciencias, fazia propaganda hypocrita das graçolas semsaboronas de Voltaire; mas, cousa sempre digna de ser observada nos philosophos portuguezes que applaudiam os encyclopedistas:--todos assistiam ás novenas, aos lausperennes, ás procissões com que n'essa epoca caprichavam em passar o tempo. A essa Academia podia-se juntar outra, [20] tambem ainda florescente: a Arcadia.
Qualquer d'estas duas corporações eram gremios recreativos, onde o culto das musas era um passatempo e o escrever prosa um trabalho mechanico. Apenas o bilioso José Agostinho, o obsceno Bocage e o assucarado Tolentino, lançavam no concerto de numes uma nota alegre e discordante.
Bocage escrevia:
Respondia-lhe com uma tremenda descompostura o padre, que queria arranjar um Camões para uso da côrte de João VI e dos frades gracianos. O Tolentino, [21] que nunca entendeu nada de litteratura, rabiscava versos, pedindo jantares e dinheiro.
Não se levantava uma voz dolorosa ou eloquente, um grito de convulsivo desespero, uma poesia d'arrebatadora inspiração. Tudo era pautado, mesquinho, uniforme como uma ceremonia da côrte. O povo apenas, heroico resignado, conservava o grande refugio no desdem e na indifferença. Nenhum vate da Arcadia o cantou; nenhum escriptor punha a penna ao serviço da sua causa, para o despertar. Massa inconsciente, que formigava n'um zumbido, sempre insistente, sempre pavoroso, como onda de temporal quebrando-se em rochedo terrivel--que lhe importava a elle que D. João VI fugisse [22] e os francezes invadissem o reino? Atrophiado durante dois seculos--o decimo septimo e o decimo oitavo da nossa era--que tão inexoravelmente começam a ser julgados por uma historia mais visualisadora--sem poder tirar d'entre os seus uma das altivas figuras que fazem revoluções; enterrado até á crapula, ao asco, á immundice, á lama, mas n'uma immundice quasi aterradora, tanto era enorme, quasi epica, tanto era medonha, ninguem lhe poude infiltrar energia, ninguem lhe soube provocar coragem. Paulino Cabral, Thomaz Pinto Brandão, Bocage poetisaram (e de que maneira!) a viéla, a boneja, a marafona, a meretriz, o frade vicioso e o fadista; Nicolau Tolentino, professor de grammatica e empregado [23] publico, era o cantor dos papelinhos dos frizados das senhoras, das reuniões burguezas, dos chás, dos namoros a altas horas com despejos de fezes em cima do peralvilho embasbacado. Curiosos de certo, caracteristicos, pittorescos mesmo, e muito mais interessantes do que os Arcades, bachareis e magistrados que se apellidavam «pastores» e «cysnes», nenhum ainda assim deu ás obras o cunho e o relevo do talento que as torna impereciveis. E Bocage, José Agostinho, Tolentino eram os que representavam a litteratura livre e sem peias; eram os idolos de que o povo sabia os versos e a vida, e se apontavam nas ruas.
Esses temperamentos que ficam assignalados n'uma epoca [24] pelo amor, pelo heroismo, pela tristeza, pela infelicidade, já Portugal os não podia produzir. As lyricas de Camões e Bernardim Ribeiro, as desditas de Francisco Manoel de Mello, eram substituidas pelas piadas eroticas d'Elmano Sadino e as aventuras burguezas dos dois padres Macedos. Dos humildes que então soffriam, dos resignados que supportaram a vida, não chegou até nós um grito, um arranco, uma palavra. Almas desditosas e obscuras, ninguem soube pôr no papel os vossos desalentos, as vossas dores, as vossas hesitações! Quando a vossa crença era tentada, tinheis Te-Deums para não cairdes na desconfiança do intendente Pina Manique; e para as humilhações heroicas, das vidas obscuras, as [25] suaves melancolias, os crueis desesperos, Filinto Elysio entoava um epithalamio ou um dithyrambo, Bocage versejava sobre um mote brejeiro, Tolentino escrevia a Funcção, etc.
Castilho em 1830 era ainda um arcade, Garrett quasi um ignorado. Em 1837 Herculano publicou anonymamente a Voz do Propheta--uma especie de threnos biblicos, d'uma eloquencia solemne e triste. Ahi se adivinhava a inclinação do novo escriptor para a historia, poetisada pela saudade e pelas recordações. Era a primeira chamma que se ateava n'esse espirito. Altivo, insoffrido e taciturno, resignando-se n'um trabalho em que as mais das vezes tinha de martellar o cerebro e soffrear os impetos da imaginação [26] poetica, é com enthusiasmo e vibração que escreve as paginas mais alentadoras da sua Historia, os quadros mais artisticos e definitivos dos seus romances, os versos mais ricos das suas poesias.
Visitando a Inglaterra e a França, a saudade da patria amargurou-lhe o prazer da forçada viagem. Nas horas vagas d'essa vida de tribulações e cuidados, vida errante, refugiada apenas em longos labores e lentas meditações, pezou bem o seu destino. Tinha um temperamento de ferro; em cousas que a sua vontade decidisse, era inquebrantavel. Não se bandeou na politica, não se apulhou na litteratice. Pobre chimerico! acreditou na honra, desdenhoso dos estadistas e dos parlamentares; [27] teve esperança na arte pura, e cultivou-a como o seu unico idolo. Depois tambem cultivou o azeite de Val-de-Lobos com idolatria, por que estava farto da epoca e dos homens. «Dá vontade de morrer!» disse elle. Hoje qualquer noticiarista, tendo apanhado alguma indigestão de lagosta ou sardinhas, repete a miudo a exclamação, confundindo assim a vontade de morrer com a de vomitar.
Joseph Prudhomme disséra em tempos que «a invasão das diversas attribuições produz em tudo a anarchia», e como elle ainda é autoridade para as classes burguezas e dominantes, não nos é licito duvidar. Que a litteratice ou a monomania litteraria invade tudo e todos, é inegavel. Ainda [28] ha pouco, uma notabilidade medica, o sr. Manoel Bento de Souza, apercebendo-se d'isto, fez no Elogio do Doutor Antonio Maria Barboza a comparação de tres medicos-operadores com tres litteratos, explicando que usava d'esse meio para que os que não entendiam de medicina o comprehendessem melhor.
Imagine-se Sainte-Beuve, Taine e o sr. Oscar Wilde applicando este processo á critica! O esthetico inglez, por exemplo, comparando Morel-Makenzie com Dante Gabriel Rossetti; o philosopho das Origens da França Contemporanea approximando a maneira d'operar de Robespierre (e que medonho operador!) da do velho anatomista Bichat.
Para quê insistir sobre as surprezas [29] que este methodo provocaria a cada momento?
Ao espirito severo d'Herculano, cerrado ao moderno, o espectaculo das contradicções e das inconsciencias da nossa epoca repugnava. Por isso a sua obra foi uma evocação do passado e dos tempos gloriosos. Elle escrevera no Bobo (pag. 13-14) estas linhas:
«Pobres, fracos, humilhados, depois dos tão formosos dias de poderio e renome, que nos resta senão o passado? Lá temos os thesouros dos nossos affectos e contentamentos. Sejam as memorias da patria, que tivemos, o anjo de Deus que nos revoque á energia social e aos sanctos affectos da nacionalidade. Que todos aquelles a quem o engenho e o estudo habilitam para os graves [30] e profundos trabalhos da historia, se dediquem a ella. No meio d'uma nação decadente, mas rica de tradições, o mister de recordar o passado é uma especie de sacerdocio. Exercitem-no os que podem e sabem; porque não o fazer é um crime.
E a arte? que a arte em todas as suas formas externas represente este nobre pensamento; que o drama, o poema, o romance sejam sempre um echo das eras poeticas da nossa terra. Que o povo encontre em tudo e por toda a parte o grande vulto dos seus antepassados. Ser-lhe-ha amarga a comparação. Mas como ao innocentinho da Jerusalem Libertada, homens da arte, aspergi de suave licor a borda da taça onde está o remedio que póde salval-o.»
[31]Cumpriu a missão que impozera ao espirito? É analysando-lhe as diversas phases da obra que se póde responder á interrogação.
N'uns a poesia nasce com as primeiras illusões da mocidade, os primeiros amores, as suaves chimeras; n'outros, quando as desillusões começam a enevoar a alma, as tristezas a pairar na mente, o coração a seccar-se, a ser fugitivas as horas alegres, continuos e uniformes os dias funebres, e o sopro da traição envenena os amantes, é que a poesia ergue os primeiros vôos, triste e [32] amargorosa, como as aves da tempestade. Dos primeiros são raros os que conservam a frescura e pureza da musa; os annos augmentam, as flôres murcham, e quando se quer voltar, por saudade ou por distracção, ao trabalho mitigador, as palavras embrulham-se, as rimas escasseam e o cerebro torturado só consegue periodos tortuosos e seccos, concepções alambicadas e banaes. Alguns, ensaiando a rima e o verso, procuram adquirir á custa d'um trabalho seguido, a magnifica força da forma solida e quasi definitiva: são os artistas, e as suas estrophes sonoras teem sons musicaes.
Byron, Moore e Shelley alliaram os primores da forma á sublimidade da imaginação. Mesmo [33] a lingua ingleza, dulcificada pela cuidadosa versificação de Milton, Pope, Chatterton e Cowper, attingiu com os grandes poetas do começo d'este seculo uma perfeição inegualavel.
Em França, ao contrario, teve de operar-se um completo trabalho de renovação. Os pequenos abbades libertinos e poetastros, os fazedores de novellas patetas e assucaradas, nunca cuidaram do estylo. O verso cultivaram-n'o os padres Florian e Delile, a quem Rivarol disse uma vez, vendo-o com um rôlo de manuscriptos «Ah, senhor, se não o conhecessem, roubavam-n'o!» A prosa era manejada por Voltaire. Se o enorme talento de Diderot e o doloroso genio de Jean-Jacques, estavam distantes do lodaçal [34] em que se afogavam quasi todos, o chistoso Piron, Gresset e toda essa horda de pandegos semsaborões, concorreram para escangalhar a lingua, que Montesquieu, La Fontaine e os escriptores ligados pela tradicção aos do seculo XVII, tinham enriquecido.
Coube a gloria d'iniciar essa revolta contra as velhas formas, a estreita syntaxe, a poetica convencional e restricta, ao homem contradictorio e enigmatico que se chamou Chateaubriand.
Em 1801 appareceu o Genio do Christianismo. A geração inquieta e guerreira, exhausta da materialidade dos insipidos deuses do seculo anterior, comprehendeu que nascera um escriptor, um coração insoffrido, um espirito [35] pairante. A forma d'esse livro é quasi classica; mas no emtanto, atravez aquellas paginas, quanta melancolia, quanta amorosidade; ás vezes phrases dignas de Shakespeare, Balzac ou Byron, como essa do episodio de René: «foule, vaste désert d'hommes!»
Hugo veio fazer no verso o que Chateaubriand fizera na prosa; deu á lingua assucarada e debil, vibração, enthusiasmo e consistencia.
Appareceu ainda outro, embebido nos poetas inglezes, um cysne, mirando-se nos limpidos lagos de crystal, com o olhar todo offuscado pelas grandes paysagens dos Pyrineos. Era Vigny, o cantor d'Eloa e Dolorida, o philosopho da Colera de Sansão, esse grande e symbolico poema [36] do fatalismo no amor, que começa pelos versos celebres:
Estes revolucionarios deram á prosa e ao verso uma symetria, uma profundeza, uma sumptuosidade desconhecida.
Muitas das obras d'esta epoca trazem um cunho d'invocação historica em bloco. Vigny formulara o seu processo no prefacio de Cinq Mars: «tudo devia ter succedido assim.»
Portugal até 1836 seguira distanciadamente o movimento de renovação.
As primeiras poesias d'Herculano resumbram a nostalgia da [37] patria e recordam as suas luctas de soldado. O sentimento que em todas ellas repassa é uma tristeza de saudoso, uma vibração de descontente. A forma é frouxa como em quasi todos os seus versos.
Ha um phenomeno curioso a observar nas grandes individualidades litterarias: sentem, transplantam o sentir, alcançam a nota mais elevada do pathetico, mas os seus versos são coxos e maus, e muitas vezes inferiores, segundo as regras da poetica, aos d'um banal poeta de lyrismos discretos e perfumados. Camillo e Herculano são d'isso exemplos culminantes. Estes dois grandes homens tinham demasiado pudor e orgulho para encherem columnas de versos de vulgarismos [38] falsos e mystificações irritantes.
Herculano, apezar de tudo, attinge os acumes da elevação poetica nas poesias religiosas, essas meditações profundas e serenas, em que elle se identifica com Klopstock, misturando a taciturnidade da sua indole aos arrebatamentos do seu espirito. N'esta indole triste os primeiros vôos da musa pairam por sobre as velhas torres gothicas e mouriscas, as cathedraes rendilhadas, os castellos agoirentos e enegrecidos. Era a primeira chama que se ateava n'esse insoffrido.
A Cruz Mutilada testemunha eloquentemente como o seu talento attinge o sublime, elevado nas azas da crença e da saudade; e o velho cerro de Cintra e a gruta [39] que avista o mar, d'onde se enxergou a primeira caravela vinda da India, foram o amphitheatro escolhido por este homem para ahi se inspirar no maravilhoso canto, que mais parece um hymno de Santo Agostinho ou S. Thomaz.
Deus, a Semana Santa, a Arrabida são, como a Cruz, o grandioso da sua obra em verso. E não direi da sua obra poetica, por que todos os seus trabalhos respiram poesia--a mais altiva, a mais elevada. É curioso como este homem, acusado de secco, duro, rancoroso, incapaz d'abrir o seu coração ao amor, fosse o artista que escreveu as paginas arrebatadas e potentes de ciume, de paixão, d'embates amorosos entre o espirito e a carne; paginas, [40] que dilaceram, fazem tombar lagrimas e constituem as mais admiravelmente escriptas do Monge de Cistér, do Bobo, do Eurico.
Em Inglaterra os romances de Scott invocavam a idade-media as cruzadas, os velhos burgos.
Poetas, romancistas, escriptores pendiam para os estudos e para a critica historica.
Os romances mesmo e as memorias, que tão cultivadas teem sido nos ultimos cincoenta annos d'este seculo, são apenas variedades da historia e da critica. O pensamento do romancista é [41] identico ao do critico e do historiador. Tem de documentar e historiar um meio, uma epoca, onde se agitam personagens contemporaneos ou remotos. É assim que nos livros do sr. Henry James, n'esses pequenos contos, que nos parecem rabiscados na meza de fumar d'algum rico hotel das grandes cidades, está toda a vida, toda a ancia, toda a nostalgia, e todas as hesitações nervosas d'essa geração fluctuante, que emigrou para a America, se regenerou e fortificou ao contacto d'outro meio e d'outro clima, e só se definha e soffre, quando inveja e macaqueia essa velha Europa, onde tantos vêem matar as saudades e desedentar a sede dos vicios morbidos que herdaram.
[42]Quando ha cincoenta annos appareceu o Monge de Cistér, o romance historico não existia em Portugal. Como reflexo pallido da litteratura ingleza, apparecera entre nós uma ou outra tentativa isolada e obscura. Foi Herculano que o vulgarisou; elle mesmo nas Lendas e Narrativas o confessa, orgulhando-se que os seus ensaios provocassem a publicação do Arco de Sant'Anna, do Anno na Côrte, Odio Velho, O Conde de Castella, Irmãos Carvajales, O que foram Portuguezes. Estes trabalhos, excepto o primeiro, são productos mediocres de cerebros cançados; a curiosidade que os recebeu tombou, com o tempo, em gelida indifferença.
Quem lê os romances d'Herculano [43] não póde procurar n'elles nem a analyse da vida, nem mesmo o estudo exacto da epoca em que se passam. O poeta triumpha sempre e, se aqui e ali, apparece o historiador--ou melhor o cerebro transbordando de conhecimentos historicos e obrigado a revelal-os em tudo quanto escrevesse--o visualisador sempre nos arrasta e empolga com as suas illusões. O que vibra com uma intuição admiravel nos seus romances, é a nota desesperante do amor. As paixões d'esses personagens eram um fogo que os minava e consumia. A religião e o despotismo medieval carregaram ainda mais funebremente o espirito dos barbaros. Qualquer sentimento que os escravisasse, era para esses brutaes uma força, [44] como que sobrehumana, contra a qual luctavam, subjugados pelas superstições e pelos prejuizos. O Egas Moniz do Bobo, o Eurico, o Vasco do Monge de Cistér, o D. Fernando das Arrhas por fôro d'Hespanha são entes que se movem na vida sob a acção dominadora d'um amor, tão despotico como a tyrannia d'essa idade de ferro. Estes amorosos são como leões algemados que a cada instante rugem o seu desespero.
O sempre triste Eurico[1] escreve a Theodemiro:
«Examina bem a consciencia e diz-me qual é para os corações puros e nobres o motivo immenso, irresistivel das ambições do [45] poder, da opulencia, do renome? É um só--a mulher: é esse o termo final de todos os nossos sonhos, de todas as nossas esperanças, de todos os nossos desejos. Para o que encontrou na terra aquella que deve amar para sempre, aquella que é a realidade do typo ideal que desde o berço trouxe estampado na alma, a mira das mais exaltadas paixões é a aureola celestial que cinge a fronte da virgem, idolo das suas adorações.»
«Tirae do mundo a mulher, e a ambição desapparecerá de todas as almas generosas. Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da actividade interior; é a causa, o fim, e o resumo [46] de todos os effeitos humanos.
Theodemiro eu amei como ninguem, talvez, ainda amára. Este amor foi desprezado e ludibriado e, depois, comprimido pelo desprezo e pelo ludibrio no fundo do coração do teu pobre amigo. Sabes o que faz um amor immenso assim recalcado?--Devora e consome o futuro e entenebrece para sempre o horisonte da vida. Nada ha, depois d'isso, que possa restaurar o que elle tragou: nada que possa rasgar as trevas que elle estendeu. No mesmo sepulchro não ha porvir d'esperança, nem, porventura, luz de consolação; porque o passamento do corpo precedeu a morte do espirito.»
[1] Eurico pag. 76, Lisboa, 1864.
D. Fernando, o doloroso apaixonado, [47] conhecendo a ignominia a que desceu, diz a Leonor Telles:
«É por que sabes que esse amor não pôde perecer, que esse amor é como um fado escripto lá em cima--interrompeu D. Fernando--que tu me fazes tingir as mãos de sangue, para satisfazer as tuas crueis vinganças; é por que sabes que esgoto sempre o calix das ignominias quando as tuas mãos m'o apresentam, que me sacias de deshonra. Terás, acaso, algum dia piedade d'aquelle que fizeste teu servo, e que não póde esquivar-se a ser tua victima[2].»
[2] Lendas e Narrativas, 1.º vol. Lisboa, 1865.
[48]O sombrio Egas, despedindo-se de Dulce, diz-lhe:
[3] O Bobo, pag. 145, Lisboa, 1878.
Herculano tocou como poucos na eterna chaga da alma apaixonada:--a duvida, a desconfiança. E como o ciume e o desespero se manifestam psychologicamente n'uma inalteravel uniformidade em todas as epocas, segue-se que um Egas, um Fernando, um Vasco, um Eurico, são typos caracteristicos dos amorosos e tristes.
[49]Vimos como as principaes figuras intellectuaes do começo do seculo penderam para as reconstituições do passado. Em Inglaterra Hume abrira no seculo anterior a corrente que depois Lingard e Macaulay proseguiram; em França Augustin Thierry, Quinet, Guizot dão aos estudos historicos uma nova phase. Herculano seguiu esta corrente, que dominou toda a obra. O investigador surgiu primeiro do que o poeta ou poeta fez surgir o investigador? Um e outro apparecem tão confundidos em todos os seus livros que é impossivel responder á interrogação. Que [50] o historiador não destruiu a alma poetisadora, vê-se logo no 1.º volume da Historia de Portugal, que fecha com estas saudosas palavras sobre o nosso primeiro rei:
«Se uma crença de paz e de humildade não consente que Roma lhe conceda essa corôa, outra religião tambem veneranda, a da patria, nos ensina que, ao passarmos pelo pallido e carcomido portal da igreja de Santa Cruz, vamos saudar as cinzas d'aquelle homem, sem o qual não existiria hoje a nação portugueza, e, porventura, nem sequer o nome de Portugal.»
O trabalho sobre a descentralisação municipal da idade-media, inserto no 4.º volume da Historia [51] tem sido, até hoje, considerado como obra definitiva.
O peso da investigação carregara a indole d'este homem d'estudo; o seu cerebro transbordou. Planeando apenas escrever sobre Portugal na idade-media, viu que podia alargar os seus trabalhos; mas a polemica provocada pela publicação do 1.º tomo da sua Historia, serviu-lhe de pretexto para fingir que truncava um trabalho, que elle mesmo talvez--apenas um momento--pensasse em proseguir.
Quando em 1840 Herculano foi eleito deputado por Cintra, teve occasião de pedir a palavra no [52] parlamento; tinha uns apontamentos que consultava, á medida que ia falando.
O que seria a camara dos deputados em 1840?
Cheia d'abbades somnolentos, de provincianos ridiculos, de bachareis grotescos e analphabetos inconscientes, não é hoje muito facil fazer uma idéa approximada do que era então esse antro de palradores.
No meio do discurso, um pouco interrompido, do deputado por Cintra ouviu-se o grito de: «larga a sebenta!» que produziu o riso contido d'aquella camara patusca. O homem que pronunciou esta phrase symbolisou depois a tagarelice parlamentar e petulante no seu apogeu; palrou durante vinte e tantos annos, acclamado [53] por uma burguezia que lhe admirava a cabeça e a careca, fez discursos que são o mais irresistivel narcotico dos poucos que teem a coragem de consultal-os, morreu conhecido e feliz. Tem duas estatuas--uma defronte de S. Bento, d'essa casa de cuja inutilidade prejudicial elle foi o mais triste e curioso symbolo, outra em Aveiro. Chamou-se José Estevão.
Alexandre Herculano, ferido no seu orgulho, nunca mais quiz frequentar aquella feira de gado.
Os seus trabalhos resumbram todos um invencivel rancor aos politicos e á politica. A sua indole triste sombreou-se. O despeito e o tedio azedou-lhe o caracter. Adivinhou a vulgar corrupção que se alastrava por todas as [54] classes e, com a integridade inherente ao seu espirito, fugiu. Esta deserção d'um campo, onde o paiz lhe podia merecer tantos serviços, era inevitavel. O presente não o tentava. Com uma ancia vulgar nos espiritos que chegaram ás cumiadas da cultura intellectual, tentou brutificar-se na vida do campo, beber a grandes tragos a alegria que a natureza entorna na alma dos animaes e das plantas. Mas estava muito intellectualisado.
O brado que levantou a favor dos monges e dos padres pobres, foi recebido pelos livres-pensadores burguezes como uma contradição com os ataques na celebre questão Eu e o Clero. A Herculano, temperamento religioso por educação, repugnava, o abandono [55] e a miseria em que o governo deixara os antigos frades, negando-se mesmo a pagar o insignificante subsidio que promettera aos que se secularisassem. Á sua indole, estreita e inquebrantavel em questões de rectidão, custava a comprehender que os ministros renegassem todos os programmas com que subiam ao poder e faltassem a todas as promessas, como se elles tivessem sido inventados para outra cousa! Esta surpreza n'um homem ambicioso, transformou-se mais tarde n'um rancor que, nos ultimos annos da sua vida, se affogou em desprezo por tudo que dissesse respeito á politica. D. Pedro V, de quem Herculano foi o mentor, consultava-o a miudo sobre os negocios do estado e a maneira [56] de resolvel-os. Herculano gostava d'este papel de ministro do culto e, póde affiançar-se que se o tivesse exercido por mais tempo, muitos dos que elle desprezava, teriam sentido por detraz do manto do rei, a pata do leão, atirando-os á insignificancia d'onde nunca deviam ter saido. Este poder, exercido por um mais longo prazo, se o reinado de D. Pedro V tivesse sido duradouro, é forçoso dizel-o, embora não muito democratico, seria benefico e talvez evitasse a lenta agonia em que Portugal agora se revolve. Mas quiz o destino que tal não succedesse. Herculano, apenas chegou a Lisboa a rainha Estephania, sentiu o espirito accesso em ciume contra a mulher que ia dominar o rei com [57] o mesmo, ou talvez maior, prestigio com que elle--o grande intellectual--tinha dominado. Este resentimento explica-se bem: Herculano olhava D. Pedro com o carinho affectuoso d'um pae e, o que mais é, d'um pae que houvesse podido identificar á sua alma a alma d'esse filho do espirito. A rainha fôra para a indole religiosa e casta de D. Pedro a esposa, a symbolisadora do amor santo; Herculano julgou que ella vinha roubar-lhe uma parte do dominio que elle exercia no rei--e odiou-a. Este odio, comprehende-se bem, nunca revestiu as formas bruscas d'um completo rompimento; e, como provinha d'um sentimento do espirito que, se não era muito elevado, estava muito longe de ser mesquinho, [58] manifestou-se apenas por pequenos embates de palavras e dois ou tres casos anecdoticos mais ou menos conhecidos.
Por morte da rainha e do rei, Herculano, que já quasi se affastara do paço, foge e vae isolar-se em Val-de-Lobos.
A historia em Portugal acaba no reinado de D. Pedro V.
Com Luiz I começa essa longa opera-buffa, ridicula e sinistra a um tempo, com um cunho tão enorme de corrupção e de infamia, a que se assiste n'um suffocamento de indignação e lagrimas, que arrastou Portugal a este fim desesperado.
O centenario de Camões foi o unico ponto claro no horisonte negro. Mas Herculano morreu tres annos antes de se realisar [59] esse grande acontecimento nacional--onde Portugal affirmou pela ultima vez a sua força desesperada no meio da agonia.
Herculano, podendo desempenhar um elevado papel na politica portugueza, nada fez. O unico homem em quem elle exercera uma salutar influencia--o rei--morreu, deixando o seu mentor afogado em nojo pelos homens e pela existencia.
N'algumas maneiras de pensar e de sentir, Herculano revelou-se superiormente; depois a nausea pela vida e pelos viventes, communicou-lhe esse desprezo que pareceu tão grande porque tombava de muito alto, e lhe deu o [60] cunho d'intransigencia e de força, n'um tempo em que todos são maleaveis e fracos.
Analysei as manifestações intellectuaes da altiva personalidade a quem a burguezia idolatrou, mais por ouvir contar certas particularidades rudes do seu viver, do que por lhe ter lido as obras.
Homem d'um seculo convulsionado e contradictorio foi, como elle, impersistente e convulsivo. O critico exclusivista que condemnasse qualquer obra por trazer uma rajada d'azedume, esquecendo-se da epoca em que foi feita, seria tão extraordinario como o medico que quizesse persuadir um agonisante de que estava curado.
É impossivel exigir d'alguem que seja alegre, que tenha saude [61] e fé em tempos de tristeza, de desalento e de duvida.
Herculano podia repetir a phrase d'um homem muito diverso d'elle, o melancolico Amiel: «sem ter ainda morrido, sou uma alma d'outro mundo; os outros parecem-me sonhos, e eu sou um sonho dos outros.»
O homem que foi um poetisador sombrio e solitario, não devia amar um seculo de sciencia e d'industria. Não o amou Herculano, como o não amam os espiritos atormentados a quem o tedio do viver exagerou a nostalgia pelos tempos que passaram--e onde tantos doloridos põem o ideal d'uma felicidade, chimerica e impossivel para os grandes taciturnos.
[63]Escorço biographico | 5 |
I--Idéas geraes | 13 |
II--O poeta | 31 |
III--O romancista | 40 |
IV--O historiador | 49 |
V--O politico | 51 |
O Marquez de Pombal. Porto, 1890. | 100 |
Envelhecer, (contos).--Lisboa, 1892. | 300 |
Corações inquietos, (romance).--Lisboa, 1893. | 500 |
Alexandre Herculano, (estudo).--Lisboa, 1894. | 300 |
End of Project Gutenberg's Alexandre Herculano, by Manuel Caldas Cordeiro *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK ALEXANDRE HERCULANO *** ***** This file should be named 23590-h.htm or 23590-h.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: http://www.gutenberg.org/2/3/5/9/23590/ Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search) Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you do not charge anything for copies of this eBook, complying with the rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation of derivative works, reports, performances and research. They may be modified and printed and given away--you may do practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is subject to the trademark license, especially commercial redistribution. *** START: FULL LICENSE *** THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free distribution of electronic works, by using or distributing this work (or any other work associated in any way with the phrase "Project Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project Gutenberg-tm License (available with this file or online at http://gutenberg.org/license). Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm electronic works 1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to and accept all the terms of this license and intellectual property (trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. 1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be used on or associated in any way with an electronic work by people who agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works even without complying with the full terms of this agreement. See paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic works. See paragraph 1.E below. 1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the collection are in the public domain in the United States. If an individual work is in the public domain in the United States and you are located in the United States, we do not claim a right to prevent you from copying, distributing, performing, displaying or creating derivative works based on the work as long as all references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hope that you will support the Project Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with the work. You can easily comply with the terms of this agreement by keeping this work in the same format with its attached full Project Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. 1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in a constant state of change. If you are outside the United States, check the laws of your country in addition to the terms of this agreement before downloading, copying, displaying, performing, distributing or creating derivative works based on this work or any other Project Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning the copyright status of any work in any country outside the United States. 1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: 1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, copied or distributed: This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org 1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived from the public domain (does not contain a notice indicating that it is posted with permission of the copyright holder), the work can be copied and distributed to anyone in the United States without paying any fees or charges. If you are redistributing or providing access to a work with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted with the permission of the copyright holder, your use and distribution must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the permission of the copyright holder found at the beginning of this work. 1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm License terms from this work, or any files containing a part of this work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. 1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this electronic work, or any part of this electronic work, without prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with active links or immediate access to the full terms of the Project Gutenberg-tm License. 1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any word processing or hypertext form. However, if you provide access to or distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than "Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm License as specified in paragraph 1.E.1. 1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided that - You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method you already use to calculate your applicable taxes. The fee is owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he has agreed to donate royalties under this paragraph to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments must be paid within 60 days following each date on which you prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax returns. Royalty payments should be clearly marked as such and sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the address specified in Section 4, "Information about donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." - You provide a full refund of any money paid by a user who notifies you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm License. You must require such a user to return or destroy all copies of the works possessed in a physical medium and discontinue all use of and all access to other copies of Project Gutenberg-tm works. - You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the electronic work is discovered and reported to you within 90 days of receipt of the work. - You comply with all other terms of this agreement for free distribution of Project Gutenberg-tm works. 1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm electronic work or group of works on different terms than are set forth in this agreement, you must obtain permission in writing from both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the Foundation as set forth in Section 3 below. 1.F. 1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread public domain works in creating the Project Gutenberg-tm collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic works, and the medium on which they may be stored, may contain "Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by your equipment. 1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all liability to you for damages, costs and expenses, including legal fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH DAMAGE. 1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a written explanation to the person you received the work from. If you received the work on a physical medium, you must return the medium with your written explanation. The person or entity that provided you with the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a refund. If you received the work electronically, the person or entity providing it to you may choose to give you a second opportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy is also defective, you may demand a refund in writing without further opportunities to fix the problem. 1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. 1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any provision of this agreement shall not void the remaining provisions. 1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance with this agreement, and any volunteers associated with the production, promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, that arise directly or indirectly from any of the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of electronic works in formats readable by the widest variety of computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation web page at http://www.pglaf.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at http://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at http://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. To SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state visit http://pglaf.org While we cannot and do not solicit contributions from states where we have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition against accepting unsolicited donations from donors in such states who approach us with offers to donate. International donations are gratefully accepted, but we cannot make any statements concerning tax treatment of donations received from outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation methods and addresses. Donations are accepted in a number of other ways including checks, online payments and credit card donations. To donate, please visit: http://pglaf.org/donate Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic works. Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm concept of a library of electronic works that could be freely shared with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper edition. Most people start at our Web site which has the main PG search facility: http://www.gutenberg.org This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, including how to make donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.